Há mais de 30 anos que o Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa (ISSSL - Universidade Lusíada de Lisboa) contribui em Portugal para consolidar a cientificidade do Serviço Social, mediante a publicação da revista "Intervenção Social", que existe desde 1985. A história desta revista confunde-se com a emergência de uma comunidade profissional envolvida num processo de cientifização do trabalho, apoiado numa fileira de formação superior completa, plenamente integrada no sistema universitário português e europeu (licenciatura / mestrado / doutoramento).
O Institut Régional du Travail Social (IRTS) Paris Île-de-France, que se identifica com a trajectória dos interventores e assistentes sociais portugueses e se esforça por promover este mesmo processo em França, é hoje um dos principais motores de um novo ciclo histórico de colaboração luso-francesa nos domínios da formação e da investigação em Serviço Social.
Estas duas instituições convergem nomeadamente na ratificação e promoção da nova dupla definição da profissão adoptada em 2014 pela IASSW-AIETS e pela IFSW, em sede de Conferência Mundial, em Melbourne, que reconhece o Serviço Social como profissão de intervenção e como disciplina académica. É, pois, neste contexto que surgiu este novo projecto de publicação anual de um número especial bilingue da revista "Intervenção Social", sob a dupla coordenação científica de Michel G.J. Binet (ISSSL-ULL) e de Stéphane Rullac (IRTS Paris Île-de-France).
Este projecto editorial tem como objectivo o de apoiar a emergência e consolidação de uma comunidade científica do Serviço Social por meio de um suporte de comunicação académica, de circulação internacional, nos espaços lusófono e francófono da investigação em Serviço Social, em torno da Investigação-Acção Colaborativa (IAC).
Admitimos como postulado que o actual projecto científico-profissional dos assistentes sociais à escala internacional assemelha-se a um tipo de revolução científica que anda à procura dos seus paradigmas, para se distinguir e se autonomizar bem como para conseguir apreender a complexidade do seu objecto. Um destes paradigmas parece estruturar-se em torno da investigação-acção colaborativa. Por conseguinte, lançamos a título permanente a presente chamada para artigos nas línguas portuguesa e francesa, com vista a apoiar e alimentar o projecto de publicação anual deste número especial (hors-série), consagrado à investigação-acção colaborativa, nos vários sectores de intervenção social.
As IAC configuram um paradigma que integra no seu seio numerosas abordagens e variantes, em constantes evoluções. Mais do que um método, esta abordagem corresponde a uma démarche fundamental, a um processo científico de pleno direito. Aliás, a sua denominação é por si só uma questão debatida, dada a galáxia existente de denominações aparentadas: investigação-acção, participatory action-research, investigação-acção coparticipativa, inside/outsider team research, investigação intervencionista, etc.
Acima de tudo, trata-se de uma abordagem particularmente bem adaptada e apropriada para sustentar o desenvolvimento de investigações no seio de comunidades de práticas profissionais dos vários sectores da intervenção social. A dimensão proteiforme das IAC não é um defeito, mas sim, uma oportunidade de "bricolagem" de desenhos investigados à altura dos desafios do Serviço Social e potenciadores de inovação social. As IAC opõem-se a uma tendência pesada para a heteronomia científica da intervenção social, estudada historicamente por investigadores de fora, não pertencentes aos meios profissionais, que tendem para remeter os profissionais para um estatuto de sujeitos passivos da investigação, em nome de um alegado enviesamento decorrente do seu envolvimento na acção.
O desafio que se coloca às IAC consiste, pelo contrário, a promover investigações ancoradas na análise das práticas, pela via de métodos colaborativos que reconhecem a cada um(a) a capacidade de fazer valer os seus saberes profissionais, na qualidade de co-investigadores ou de praticiens-chercheurs. esta abordagem colaborativa pode ser ela própria alargada aos beneficiários das acções e utentes dos serviços sociais, na qualidade de peritos (experts d' usage) e de cidadãos. As IAC perfilham com efeito um ideal de participação cidadã que coloca os actores da intervenção social numa posição política de peritagem/consultadoria, em prol da questão ético-política da intervenção dos assistentes sociais, ela própria parte integrante da questão social.
Convidamos, portanto, os investigadores-actores em Serviço Social e os investigadores das outras áreas disciplinares das Ciências Sociais e Humanas, de língua portuguesa ou francesa, que promovem investigações-acções colaborativas nos diversos sectores da intervenção social, a submeter artigos, para publicação num número especial de difusão internacional, da revista indexada "Intervenção Social", no termo de uma revisão cega por pares, membros dos Conselhos Científicos nacional e internacional do periódico.
Oferecemos, assim, à comunidade investigativa um novo espaço académico de publicação, consagrado aos desafios éticos, conceituais e metodológicos das IAC em Serviço Social.
Em caso de submissão de propostas de artigos não enquadradas no dossiê temático principal (IAC), ancoradas, no entanto, na área da investigação em Serviço Social, perspectiva como "disciplinar interdisciplinar", os coordenadores procederão ao seu reencaminhamento para publicação num número regular da revista, com o acordo prévio dos autores. A política linguística dos números especiais privilegia as línguas portuguesa e francesa. De igual modo, as propostas de artigos redigidas em inglês e em espanhol serão reencaminhadas para publicação num número regular, com o acordo prévio dos autores.
Michel G.J. Binet (ISSSL-CLISSIS-ULL)
Stéphane Rullac (IRTS Paris Île-de-France)